A comida pouca virou semente pouca
na terra seca pouca rachada pela água pouca
O pai descalço semeou a mãe descalça orou
a criança descalça chorou e a fome só piorou
Semente na terra seca esperando a chuva ama seca
para germinar em verde esperança
do pai que de sol a sol semeou
da mãe que de lua a lua orou
da criança que de sono a sono chorou
da terra seca que de sede rachou
Choveu a chuva ama seca molhou a terra seca
terminou a negra desesperança.
O pai calçado colheu a mãe calçada agradeceu
A criança calçada sorriu e a fome triste morreu
Compus este poema depois de ver uma fotografia, onde um menino humilde estava feliz da vida com o seu novo par de mei-as e seu novo par de sapatos. Sem dúvidas, as meias e os sapa-tos, representavam uma realização e a certeza de um final feliz. Transformei este sentimento, de esperança mansa, em palavras lavradas no poema. Mas o que aconteceria com o poema, onde tudo acaba bem, se não chovesse, a chuva ama seca? Essa estória acabaria nas favelas do Brasil ou nas páginas de notícias policiais de um jornal qualquer, em ambos os casos, não haveria um final feliz. Freqüentemente nesta situação limite, as pessoas são acometidas e dominadas por violenta emoção.
Entrar neste mundo de desfecho social imprevisível é entrar em um mundo retratado, relatado, dia após dia, nas páginas dos jornais, que torna este livro, em um livro para quem tem muito sangue frio e nervos de aço.
Um livro para adultos, que possui o ar forte da altitude, o gelo esta ao lado, resta saber se você é feito para ele e sabe respirar o ar forte das alturas. Um ar com pouco oxigênio e fragmentos de fatos verídicos, regados a sangue frio, dominados por violenta emoção, boa leitura e boa sorte ♣.
Midu Gorini
Number of pages | 228 |
Edition | 1 (2012) |
Format | A5 (148x210) |
Binding | Paperback w/ flaps |
Colour | Black & white |
Paper type | Uncoated offset 75g |
Language | Portuguese |
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