*R A U L S E I X A S*
Raul: (Nome de origem germânica - pelo francês RAOUL - que significa “LOBO CONSELHEIRO”
“Eu me utilizo de todos os meios da sociedade de consumo, penetro no sistema, mas como um veneno.”
*Como somos verbalóides, o começo foi o verbo. Em “GITA”, e em outras composições minhas. “Eu sou, eu fui, eu vou...”. A afirmação do “eu”, pois o homem precisa aprender a auto-afirmar-se, o “eu” assumido e vomitado, arrancará do âmago esse medo que o homem tem de declarar-se senhor absoluto de seus direitos e do universo.*
(RAUL SEIXAS)
“Eu sou a luz das estrelas”...
O tempo é a medida de cada artista. Quando a obra de qualquer artista transcende o tempo é porque, de fato, ela possui qualidades para ser chamada de Arte. Neste contexto, sem nenhuma margem de dúvida, se insere a obra de Raul Seixas, principalmente aquela que o consagrou como o verdadeiro precursor do rock nacional, capaz de superar a barreira do iê-iê-iê quase infantil da Jovem Guarda. Fato inconteste: além de dividir o rock em antes e depois da sua obra, Raul contribuiu decisivamente para a evolução da Música Popular Brasileira.
Curiosamente, aliás, Raul Seixas também participou, como compositor (sob o nome de Raulzito), da Jovem Guarda, embora seu pensamento poético e musical transcendesse a superficialidade deste gênero.
Felizmente, para todos nós, o Raul Seixas que ficou para a posteridade foi aquele cuja obra brotou a partir da década de 1970, mais precisamente 1973, quando estourou pelas rádios de todo o país, ainda AM (quando elas tocavam qualquer gênero musical, sem a influência venal das gravadoras), o sucesso “Ouro de Tolo”, música que retratava corajosamente a crise existencial de ser humano.
A propósito, com “Ouro de Tolo”, Raul Seixas descobriu a sua mina para a consolidação de uma carreira inquieta e não menos irreverente como ele sempre foi. Na mesma linha, podem ser citadas outras composições: “Metamorfose Ambulante”, “Medo da Chuva”, “Tente Outra Vez” e até mesmo “Trem das Sete”.
Mas Raul Seixas, junto com Paulo Coelho, também teve o desplante de lançar a idéia de uma “Sociedade Alternativa”, um movimento que pretendia ser digamos anarquista (e isto sem qualquer sentido pejorativo que a palavra possa pressupor) em plenos anos de chumbo da ditadura militar. Lógico que o movimento só poderia ter sido abortado pelo regime, mas a idéia lançada no coração dos jovens daquela geração persiste até hoje: “não sendo mais um sonho que se sonha só”...
Raul Seixas, porém, era multifacetado, metamorfônico, sim, muito mais do que se possa imaginar. Nele também pulsava uma veia romântica de rara sensibilidade que podemos dimensionar, por exemplo, através de “A Maçã” e “Mata Virgem”, duas composições, aliás, que representam o paroxismo, faces opostas de um mesmo amor.
Quando mais maduro, antes de firmar parceria com Marcelo Nova, mas já escaldado pelas lições e contratempos que a vida lhe pregou, Raul ressurgiu em 1987 com outro grande sucesso, “Cowboy Fora da Lei”, uma síntese debochada da sua própria vida e também, por que não dizer, um retrato fiel – e infelizmente ainda contemporâneo – do Brasil daquela época, aliás, um país já pós-ditadura militar, mas com todos os resquícios e preconceitos dos anos de chumbo e de uma sociedade assaz conservadora, embora em perene transformação.
Mas das obras de Raul Seixas, uma das que mais me marcaram, sem dúvida, foi “Gita”, uma espécie de “antítese” do deus ocidental e ao mesmo tempo, o deus cósmico, mais presente nas religiões orientais. Não era para menos, “Gita” se inspira no Bhagavad Gita, poema épico hindu, quando Arjuna pergunta a Krishna “quem é você” e Krishna responde: “Eu sou a luz das estrelas”...
Em suma, daí surgiu o mote para uma canção definitiva por sintetizar em si a verdadeira essência de Deus – não um Deus monocrático, mas monocósmico. Desde sempre, como podemos perceber agora, se o tempo mede o artista, também é capaz, numa espécie de simbiose criativa, de imitar a sua própria Arte: Raul Seixas já era eterno muito antes mesmo de nos deixar...
Valdecir Martins
Number of pages | 562 |
Edition | 1 (2016) |
Format | A5 (148x210) |
Binding | Paperback w/ flaps |
Colour | Black & white |
Paper type | Uncoated offset 75g |
Language | Portuguese |
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