Xìco Crùz vive e nos oferece a oportunidade de cruzar inúmeras experiências, de pular dentro e fora de mundos diversos, cujas portas lhe são abertas pela fantasia embebedada ao poço de mil culturas, nas raízes nordestinas. Começou com a música; elegeu o teatro como forma mais própria de expressão e exploração da vida; transbordou nas quadrilhas juninas estilizadas, que a cada ano nos surpreendem, entrelaçando a festa exuberante, o profundo respeito da alma popular, o deboche feito crítica divertida, a sensibilidade à causa dos pobres e a denúncia de tantas vidas cortadas. Recentemente, como o menino Sebastião, protagonista deste livro, descobriu-se catador de palavras. Sabe costurá-las como o pai Manuel tecendo suas redes, ou como mãe Rosa decorando a cortina de pano florido, “tão vivo que cheira”.
Ler os textos de Francisco é como nadar num rio que te agarra, submerge, leva nas correntezas ora enlouquecidas, ora vagarosas e contemplativas.
Este livro é uma reconstrução criativa da lenda do Rei Sebastião. É uma narração fascinante sobre a palavra e o silêncio, que abre caminhos no claro-escuro das raízes afro e indígenas do Maranhão. Sebastião aprende que há uma linguagem do dia e outra da noite. Que podemos ser a palavra que a natureza e os ancestrais semearam silenciosamente em nós. Que não há verbo útil se não se encarna, mas também que a concretude da vida pouco vale, se não tivermos quem a interprete com a sabedoria que se tece nos longos silêncios.
Todos estamos curiosos e curiosas: por onde andarão os passos deste rei-menino, que experimentou tamanhas lições de vida? Ainda nos cabe esperar e cruzar de novo os mundos da lenda, dos sonhos populares, dos desejos e da história.
Boa leitura!
Pe. Dário Bossi, missionário comboniano por dez anos em Açailândia - MA
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