O DIÁLOGO ENTRE DINHEIRO BEM-VINDO DA SILVA & LÚCIFER.
O Inferno distava apenas algumas quadras do Céu e, ao colocar os pés na entrada ardente do outro lado do universo, deu de cara com o Cão Cérbero, o vigia dos portões infernais. Dinheiro Bem-vindo da Silva, não precisou de nenhum guia para chegar ao lugar que fedia à enxofre, como necessitara Dante, que contara com a ajuda de Virgílio, o grande poeta romano, criador de Eneida, resgatado da selva escura em que se encontrava perdido. Dinheiro Bem-vindo da Silva foi recebido com certo receio pelo Cão Cérbero, conhecedor de seu imensurável poder, prestou loas ao recém-chegado e abriu passagem ao Rei dos Reis, que, com pompa adentrou o mais maldito dos esgotos que ardia em fogo e gritos ensurdecedores de almas castigadas. Não pretendia passar pelos círculos do inferno como fizera Dante, porque sabia que ali naquele buraco gigantesco de castigo eterno, amargavam suas indecências apenas seres merecedores das dores e dos sofrimentos mais nefandos. Uma voz cavernosa foi uivada e fez tremer tudo em sua volta: -A que devo a honra da visita daquele que pretende ser mais poderoso que Lúcifer? -, rosnou o anjo caído.
-Eu não pretendo, eu sou, regurgitou Dinheiro Bem-vindo da Silva...
-Ah, ah, ah! Que ousadia, meu súdito, mas sente-se e dialoguemos como sócios e os mais poderosos e portentosos do universo.
-Agradeço a atenção, Cão, mas minha conversa contigo é rápida e crucial. Não quero me demorar aqui em seu território, portanto, não me sentarei, devido à fornalha que consome a cadeira me posta à frente, posso me queimar e aqui quem arde em chamas são seus súditos e não Dinheiro Bem-vindo da Silva, que em poder e glória é mais forte que tu.
-Ousas me desafiar e ao meu poderio? Quem neste mundo infernal ou celestial é mais audacioso e poderoso que Lúcifer? Contestei a criação divina, fui deserdado da glória por meu Pai. Plantei o mal em todo coração humano e domino o mundo.
-Sim, Lúcifer, não renego seu poder e sua astúcia, mas o seu poder não se compara ao meu. Eu, Dinheiro Bem-vindo da Silva, sou o poder absoluto sobre todas as coisas. A vida humana e os pecados do mundo, não existiriam sem a minha presença. Eu extirpei do coração humano a dignidade e plantei toda sorte de cobiça e mal. Seu poder é invisível, o meu é palpável, desejado e articulado. Transformei o homem em um ser hediondo, são prostitutos a meu serviço.
-Certamente, mas se eu, o Diabo, não os tentar para que se desviem dos caminhos certos que meu Pai indicou a eles e não sedar o espírito de cada um que se vende a você, seu poder não seria tão imenso. Portanto, trabalhamos juntos, mesmo inconscientemente, somos sócios.
-Nada disso, serei curto e grosso e provarei agora que seu poder, não é tão grande quanto o meu.
-Como assim? Eu tento e exijo que me sigam. Sou capaz de desviar qualquer ser humano ou espiritual quando quiser.
-Não, não é mesmo. Você apresentou todos os reinos do mundo a Jesus e não o convenceu a adorá-lo.
-Seu poder é limitado, o meu tem comprado a honra e a dignidade da humanidade toda.
-Eu, Dinheiro Bem-vindo da Silva, estou infiltrado até mesmo nos corações dos que te servem, das seitas que o pregam. Me infiltrei nos púlpitos das igrejas e de todas as religiões, por minha causa, pai mata filho e filho mata pai, pai estupra e abusa da própria filha, grandes personalidades da arte e da indústria, da política, me têm como Deus e não temem obstáculo para me ter como condutor de suas vidas, matam e roubam, mentem e praticam genocídios, guerras, falências, enfim, tudo fazem por um punhado de mim, que sou o maior divisor de águas e mágoas da humanidade. Posso ser dividido em inúmeras parcelas e partes, tenho variadas cores e valores e o mundo inteiro depende de mim para dar continuidade a sua saga de miséria humana. E não me sinto culpado pelo desterro humano. Sou inocente de todas as acusações que lançam sobre mim, porque sou justo e quem me transformou em espécie desumana foram os seres humanos gusanos e gananciosos. Fui criado para manter um equilíbrio total e a divisão correta entre os seres humanos. Reconheço, Cão, que a partilha de mim por igual equivalência para cada qual desses humanos mercenários torna-se impossível, pois cada qual dos humanos malditos, merece seu quinhão, de acordo com aquilo que produz. Óbvio que, não se pode dar a cada qual o mesmo valor. Seria injusto me dividir em partes iguais para todos. Tomemos como exemplo a produtividade de cada setor trabalhista, científico etc. Não seria justo que um industrial, que produz coisas essenciais à vida, ou que um médico, advogado, cientista, inventor, artistas de todos os segmentos culturais, recebesse por seu trabalho o mesmo salário que um trabalhador comum. No entanto, quando digo que sou justo, sou realmente, porque reconheço a partilha de meu valor, dividida com justeza para cada parte merecedora. Um médico que tem um salário de 100 mil, merecidos por sua batalha para salvar vidas e curar doenças, não poderia ganhar valor igual a qualquer espécie de trabalho comum, mas quem trabalha em áreas consideradas abaixo das grandes profissões, não pode ganhar pelo seu simples trabalho apenas um salário-mínimo, teria de ter um salário digno e que lhe permitisse uma sobrevivência mais amena, saúde, educação e moradia. Veja, Asmodeus, quando digo e afirmo, que sou justo quando inserido nas várias nuances humanas e profissionais, o que ocorre na Suécia e na Noruega, países em que um médico de renome não ganha por seu trabalho muito mais que um simples lixeiro. O médico ganha mensalmente, suponhamos, 20 mil, o lixeiro recebe 16 mil ou mais, o que confere a todos um nível de vida estabilizado e justo. Mas, seus súditos malditos e canalhas, querem todo o meu valor somente para eles, não pagam justamente o valor merecido por aqueles que lhes prestam vassalagem. São canalhas mais canalhas que os canalhas comuns, pois esses canalhas de verve maquiavélica, tentam a todo momento me falsificar e despejam no mercado, meus sósias, mas eu sou infalsificável, eu sou REAL e logo, são desmascarados porque a minha realeza não tem substituto.
Meu prezado, saiba você que, o único meio que não se deixa negociar pelo meu poder e nem pelo seu e cujo meio muito me irrita, pois a nenhum preço consigo fazer com que essa casta de seres livres, seja comprada, é o meio artístico, em todos os seus segmentos. Uma parcela considerável desses seres invendáveis, poetas, pintores, atores etc. Nega-me e a ti, o respeito que merecemos, eles não se vendem por valor nenhum. São livres pensadores e não se adequam aos nossos meios de controlá-los. Renegam a mim e o que posso lhes oferecer, eles fazem questão de recusar. Eles pensam e são pessoas que não se importam com o luxo que posso lhes outorgar, se prostrados me adorarem. Nada os convence do meu poder. Não ligam para os carrões, mansões, mulheres e vinhos caros e o que eles conseguem ganhar com seus trabalhos, fazem questão de investir no auxílio aos que nada possuem e que buscam o mesmo sucesso que eles poderiam obter comigo. Trata-se de uma raça de seres separados de todos, caminham com as próprias pernas e criam obras de valor altíssimo, sempre atiradas ao esquecimento, mas não se deixam negociar. São pessoas de espírito livre. Quando me apresento e sou posto sobre a mesa de homens que negociam as artes em todos os segmentos e fragmentos, aqueles que estão sentados em torno dessa mesa, ao vislumbrarem quantidades imensuráveis de minhas cédulas, repentinamente se transformam, como se eu exercesse sobre os tais alguma espécie de hipnose, vislumbro nesses seres abjetos, suas verdadeiras faces: suas mãos tremem e começam a suar, seu olhos saem de órbita, esbugalham-se e brilham maleficamente, como se todos fosse tomados por alguma força demoníaca, permanecem sedados, sofrem taquicardia inesperada, afrouxam as gravatas, se comportam incomodamente como se as cadeiras em que se recostam tivessem pregos furando suas bundas sujas e pensam no quão bom seria a divisão, entre eles, das milhares de cédulas que compõem o meu valor e lançam sobre a mesa, como se vomitassem suas ignomínias sobre mim, sua indecência tangenciada de boas intenções. Exerço sobre os homens uma derrocada total de suas verdadeiras almas. Me sinto muito mais dignificado nas mãos de uma prostituta do que nas garras dessas feras humanas. A prostituta vende sua honra em troca da sobrevivência, entretanto, a prostituta negocia o que lhe pertence: o corpo. Os homens se vendem como se putas fossem, negociam sua honra, passam por cima, como boiada que estoura na estrada, da própria família, se esquecem dos amigos, dos filhos, das esposas e dão a mim como escravos do lixo e ainda vendem a dignidade dos seus semelhantes para estarem sempre por cima da carne seca. A dor e a necessidade alheia, não mais os toca, não mais os comove, porque seus olhos só enxergam a mim e a tudo o que lhes posso proporcionar. Nas mãos de uma criança, me vejo ainda mais poderoso, porque a criança, ao receber dos pais um pouco de mim, acorrem felizes em busca de guloseimas e chocolates para adoçarem sua vida e seus sonhos e jamais me usam para perpetrar quaisquer malefícios contra os mais necessitados. Vocês, humanos, são execráveis, quando me possuem aos milhões, se perdem pelas veredas da ganância desenfreada e se tornam seres imundos e raquíticos de pensamento. Existe uma casta de artistas, todos filhos da puta, que saíram do caos humano, pobres, analfabetos e semianalfabetos, descidos do mais árido sertão ou mesmo de cidades interioranas e também das selvas de pedra, que aportaram sem nada que lhes provesse a sobrevivência, nas grandes cidades onde estão sediadas as grandes gravadoras e canais de TV, em busca de um lugar ao sol e de sucesso em todas as áreas da arte, danam-se de fome, de “nãos” vomitados sem nenhum pudor pelos poderosos das artes, produtores e diretores que não passam de babacas, sem nenhum conhecimento do que é a verdadeira arte, muitos com talento indiscutível, mas que não se afinam com as insanidades do meio, e outros que nada sabem e nada produzem que mereça alavancamento profissional, artistas plásticos com suas obras sem cabedal e cantores e compositores imberbes e idiotas e muitos desses artistas de araque e sem talento, se vendem a preço de banana, se dão a noitadas de sexo e drogas, tudo para atingirem o estrelato e tudo por minha causa. Outros, talentosos e geniais, amargam o desprezo e a solidão, pois jamais seriam capazes de se deitar com os donos da arte e nem permitem jamais, que mãos surripiadoras se metam em seu trabalho e não negociam sua dignidade por mim e pelos holofotes. São pessoas de espírito elevado, que nunca cederam à tentação de viver outra vida senão aquilo que escolheram para si mesmos. A esses artistas iluminados e verdadeiros, que são capazes de me confrontar, pois, não enxergam em mim o poder que exalo, me irritam profundamente, me sinto desvalorizado e pisoteado, mas rendo loas a tais figuras geniais.
Você Nunca Leu e nem nunca lerá algo tão estarrecedor e escabroso quanto ao livro “DINHEIRO BEM VINDO DA SILVA”...Procure Ler!!!
Number of pages | 190 |
Edition | 2 (2022) |
Format | A5 (148x210) |
Binding | Paperback w/ flaps |
Colour | Black & white |
Paper type | Uncoated offset 75g |
Language | Portuguese |
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