
Santo Agostinho (354-430 d.C.) e S. Tomás de Aquino (1227-1274 d.C.), [mensageiros de Cristo], respectivamente, da patrística e da escolástica, são dois nomes que influenciarão a concepção da espiritualidade medieval, destacando-se pelas linhas de pensamento filosóficas com que se identificam. Santo Agostinho, inspirado pelos “livros dos platônicos e depois de por eles ter sido levado a procurar a verdade incorpórea” (Santo Agostinho, trad. 2001), distingue duas formas de conhecimento: uma mutável e temporal – a que ocorre através dos sentidos (estes apreendem os objetos exteriores) – outra que é imutável e verdadeira e que ocorre através da iluminação divina (sendo, neste caso, o conhecimento alcançado através da alma). Esta, sendo superior ao corpo, não só o anima, o vivifica, como procura a verdade, que é o próprio Deus.
S. Tomás de Aquino, por sua vez, orientando-se mais para o mundo natural como criação de Deus, distingue a natureza da alma humana, das almas dos outros seres (da alma vegetativa, própria dos seres vegetais e da alma sensitiva inerente aos animais), por ser uma alma imaterial. S. Tomás de Aquino, inspirado em Aristóteles, vem afirmar que aquela se encontra unida ao corpo: este não pode existir nem viver sem a alma e, ainda que imortal, esta última, não tem uma vida plena sem o corpo. E, porque espiritual, a alma humana é imortal, contrariamente às almas dos outros seres (Freitas, 2004).
De acordo com a antropologia judaico-cristã, o ser humano é um só, ainda que possa ser visto neste tríplice dimensão: corpo, alma e espírito. Como corpo que é, o ser humano relaciona-se, num plano horizontal, com os outros e com o mundo. Enquanto alma, o ser humano é uma identidade na medida em que constitui o centro individual de consciência, aberto a uma relação, em sentido vertical, com Deus, que é espírito.
De todas as dimensões apresentadas, a que se revela fundamental é a dimensão espiritual, uma vez que pressupõe a relação com Deus, e o que qualifica, em última instância, a vida humana, na sua interioridade (anima/nefesh/psiquê) e na sua fragilidade e finitude (caro/basar/sárx), é o sopro divino (spiritus/ruah/pneuma) que, para a tradição judaico-cristã, constitui o selo da imagem de Deus no ser humano. Esta visão tem como consequência o apelo à santidade e à perfeição, na medida em que o ser humano é portador do sopro de Deus, que é santo e perfeito.
“Não sabeis que o vosso corpo é o templo do Espírito Santo, que habita em vós, porque o recebestes de Deus, e que vós já não vos pertenceis?” (1 Coríntios, cap. 6 vers. 19a).
Hill et al. (2000), por sua vez, partindo da revisão de literatura feita por Spilka, em 1993, apresentam sinteticamente, as três categorias em que os vários entendimentos contemporâneos sobre a espiritualidade se agrupam: (1) uma espiritualidade orientada para Deus onde o pensamento e a prática se baseiam em teologias, ampla ou restritamente concebidas; (2) uma espiritualidade orientada para o mundo, salientando uma relação única com a ecologia e a natureza; (3) uma espiritualidade humanista (ou orientação para as pessoas), acentuando o potencial e a realização humanos. Davis, Hook e Worthington (2008), Worthington e Aten (2009), Worthington, Hook, Davis e McDaniel (2011), para além de defenderem aqueles três tipos de espiritualidade que designam, respetivamente, por (1) espiritualidade religiosa; (2) espiritualidade ligada à natureza; (3) espiritualidade humanista, defendem um quarto tipo de espiritualidade: a espiritualidade cósmica. A primeira, segundo aqueles autores, envolve um sentido de proximidade e ligação ao sagrado, tal como é descrito por uma qualquer religião (e.g., Cristianismo, Islamismo, Budismo), sendo um tipo de espiritualidade que promove uma aproximação a um Deus particular ou a um Poder Superior. A segunda, envolve um sentido de proximidade e ligação ao meio ambiente e à natureza. A terceira, está direcionada para a humanidade, desenvolvendo um sentido de ligação a um grupo geral de pessoas e envolvendo, normalmente, sentimentos de amor, altruísmo ou reflexão. Por último, a quarta, a espiritualidade cósmica, reporta-se à ligação com toda a Criação. Este é um tipo de espiritualidade que é experienciada não só através da meditação, mas também através da contemplação da magnificência da Criação (Worthington et al., 2011).
Definindo a espiritualidade de uma pessoa como o seu caráter ou forma de ser espiritual, Casaldáliga e Vigil (1992) afirmam que [ela] é suscetível de ser medida, avaliada. Esta última afirmação ganhou sustentação no campo científico a partir do momento em que as Ciências Humanas canalizaram o seu interesse para o tópico da espiritualidade, numa tentativa de perceber em que medida é que [ela] afeta o comportamento humano, quer individual, quer coletivamente.
Mediante a exposição supracitada sobre a espiritualidade, cabe ressaltar que o escopo deste livro não se baseia em um estudo empírico e teológico, e sim, demonstrar o quanto a espiritualidade influencia os comportamentos das pessoas, em uma sociedade dinâmica suscetível a mudanças de maneira global, independente de crenças e religião. Por isso, o livro faz um convite aos legentes para um momento de reflexão pessoal, rever condutas e atitudes nas relações interpessoais com as pessoas, em todos os âmbitos em que o indivíduo vive e interage, através da poesia que se configura como uma linguagem emotiva e poética para ilustrar a vida de uma forma simples e fácil de ser compreendida.
Fonte: v34n1a03-877_Layout 1
ISBN | 9786501314136 |
Number of pages | 54 |
Edition | 1 (2025) |
Format | A5 (148x210) |
Binding | Paperback w/ flaps |
Paper type | Uncoated offset 75g |
Language | Portuguese |
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